terça-feira, 23 de julho de 2013

Episódio 5 - Final do Capítulo 1

Nosso aventureiro perdido na terra parecia muito feliz nesta fria noite de inverno. Ao seu lado, Mussum parecia muito satisfeito roendo um generoso osso de algum animal voador de porte pequeno. O espaço ao redor dos dois estava repleto de pequenos ossos, mas ambos não pareciam se importar muito com isto.
- Engraçado como os habitantes deste lugar cultivam este animal, Mussum! – disse ele, levantando a cabeça para conversar com seu cachorro – Eles alimentam este bicho durante todo o dia, em praças e locais assim, atirando comida no chão. Só não entendo porque ficaram bravos quando aproveitei para capturar estes aqui!
O cachorro olhava fixamente para seu dono, com uma expressão de que acompanhava cada palavra do que lhe era dito. Qualquer um que estivesse assistindo naquele momento juraria que a reação do cachorro foi totalmente racional com a conversa, reação esta compartilhada por nosso aventureiro quando o cachorro soltou um grunhido em sua direção.
- Eu não havia pensado nisto, Mussum... – disse ele coçando a cabeça – Vai ver era a janta deles mesmo...
Neste momento um enorme estrondo fez com que tanto Mussum quanto seu dono dessem um salto de seus lugares. Uma luz bastante estranha parecia estar se perdendo na janela ao fundo do pequeno galpão. O cachorro estava agora em pé com as orelhas voltadas na direção da porta, pronto para atacar qualquer coisa que ultrapassasse o limite de seu território.
- Vamos ver o que está acontecendo, Mussum! – disse ele correndo na direção da porta.
Chegando na rua, pode ver, a cerca de 10 metros do galpão, duas naves espatifadas dentro de um enorme buraco. As naves ainda pegavam fogo quando o viajante percebeu a imagem de três criaturas saindo das naves. Muito apreensivo – e já contando com uma provável carona – ele começa a se aproximar lentamente das naves. Reação esta nem um pouco aprovada por seu cachorro, que permanecia junto à porta, muito apreensivo.
- Olá, viajantes! – disse ele – O que traz vocês à este buraco de planeta?
Os três viajantes não pareciam estar prestando atenção no discurso de nosso amigo.
- Eu te falei para deixar a nave dele se espatifar sozinha, agora como vamos arrumar uma outra nave neste planeta? – exclamou o Pirata.
- Eu lá vou saber, talvez dê para fazer uma nave dos destroços destas duas! – respondeu Blacky.
- Do que vocês estão falando? – exclamou um Drake um tanto tonto ainda pelo impacto da queda – E afinal, quem são vocês?
- Como assim, nos somos os pi... – iniciou Blacky, mas logo foi interrompido por Pirata
- Somos dois amigos que vimos sua nave caindo e decidimos ajudar! – disse ele com um sorriso no rosto
- Nave? – disse Drake – O que é uma nave?
- Acho que o cérebro dele virou patê nesta queda... – disse Blacky – menos mal, ao menos ele não quer mais nos matar!
Logo estavam chegando próximos ao viajante perdido na terra, que, quando conseguiu distinguir os rostos de nossos três desafortunados, não teve uma reação muito esperada por eles.
- Blacky Awe de Zion, seu miserável! – exclamou ele – Eu vou acabar com a tua raça, seu salafrário de uma figa!
- Ghostface, o que você faz num lugar destes? – perguntou Blacky, logo identificando o quarto elemento.
- Como assim, cara? – exclamou ele – Você me convenceu de assustar os habitantes deste planeta, e, enquanto eu estava lá, pulando feito um idiota com um monte de luzinhas imbecis penduradas, você pegou a porcaria da sua nave e foi embora!
Blacky parecia muito pensativo naquele momento. O Pirata e Drake assistiam aquilo sem entender muito o que estava acontecendo, mas acharam melhor não se meter na discussão.
- Eu lembro de ter tomado umas cervejas com você, então compramos aqueles comprimidos estranhos do carinha verde e depois eu não lembro de muita coisa... – disse Blacky muito confuso.
- Isto não é desculpa que se apresente! – exclamou Ghostface – E quem são este dois com você, são capangas de Zion?
- Meu nome é... – começou Drake – Meu nome... Qual era o meu nome mesmo?
- Bem, o nome dele, pelo que sabemos, é Drake... – começou Blacky, jah sendo interrompido novamente pelo Pirata
- Drake, O pirata espacial! – disse o Pirata – e junto comigo somos os maiores empilhadores de toda a galáxia!
- Pirata espacial... – disse Drake – O nome eu gosto, mas não sei se quero continuar sendo um pirata espacial... Isto não me parece muito certo...
- Bem, de qualquer forma vocês vão me tirar deste planeta! – disse Ghostface – Então entrem no meu galpão antes que apareça algum animal selvagem e ataque vocês.
Os três seguiram Ghostface na direção do galpão, mas pararam alguns metros antes da porta com a imagem do cachorro.
- A propósito, este é o Mussum – disse Ghostface – Eles chamam isto de cachorro, e ele parece gostar muito de mim!

Ghostface fez um sinal para Mussum que logo voltou para seu lugar próximo a fogueira para proteger sua pilha de ossos. Os quatro viajantes, agora presos na terra, sentaram ao redor da fogueira e começaram uma longa conversa sobre como sair daquele lugar.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Episodio 4

Amanhecia mais um dia na área 51 do nada pacato planeta Zion, e, como já era de se esperar de um planeta com clima controlado, a estrela Zion brilhava forte no céu azulado. Blacky, como de costume, precisava viajar para visitar alguns fornecedores de Fireburn pela galáxia. A bordo de sua pequena nave classe Eagle de viagens interplanetárias, abria mais uma cerveja enquanto terminava de revisar o plano de voo.
- Ainda preciso descobrir o que significa o raio desta luzinha vermelha que está piscando desde minha última viagem... – disse ele olhando fixamente para o painel.
Terminado os últimos ajustes, a pequena nave levanta voo rumo a principal rota comercial da galáxia, onde levaria o ex-príncipe zioniano para os quatro cantos da galáxia para convencer os fornecedores que sua cerveja era mais gelada que a do vizinho.
- Quatro crivos de distância e eu não tenho tempo nem para tirar uma soneca... -  disse ele muito entediado, e ligando a pequena Tri-D no painel – Esta novela idiota, não entendo como podem fazer 12 anos que lidera a audiência deste horário...
Na tela, a imagem de um rapaz deitado em uma maca sendo levado as pressas para o setor cirúrgico de um hospital qualquer aparecia um pouco distorcida. Uma moça com longos cabelos negros e cacheados chorava incessantemente enquanto era segurada por outras duas moças, que presumia Blacky, deveriam ser parentes suas. Logo o rapaz já estava sendo operado por uma série de bots cirúrgicos que costuravam seu abdômen que parecia ter sido perfurado por uma lâmina nem um pouco amigável. Em meio a este pequeno momento de distração, e a pouco menos de um crivo e meio da rota comercial, um grande estrondo ecoou pela pequena ponte de comando da nave de Blacky. Algumas luzes começaram a piscar indicando que a nave havia sido pega por algum raio trator sem aviso prévio.
- Mas o que diabos esta acontecendo? – exclamou Blacky
- Nada demais, pequeno zioniano! – disse uma voz que vinha do painel, o qual exibia a imagem de um rapaz vestindo uma capa preta – Eu sou O Pirata, o mais temido de todos os piratas espaciais, e estou pegando sua nave para mim, e consequentemente, lhe raptando, mas não leve pelo lado pessoal, eu queria só a nave mesmo.
- Me raptando? – disse Blacky muito surpreso
- Não sei em qual parte não fui bem claro, meu amigo, mas sim, é isto mesmo que estou fazendo – disse o Pirata.
- Mas você não tem permissão para me raptar! – disse Blacky um tanto indignado – Eu sou...
- Quem você é não me interessa, afinal, quando eu rapto as pessoas, eu não costumo ter permissão para isto! – disse o Pirata – Agora se me dá licença, El Bandidon deve aparecer para terminar o serviço em Juan Gabriel a qualquer instante!
Dito isto, a imagem do pirata desapareceu da tela, e Blacky pode perceber que já havia sido carregado totalmente para a imensa nave pirata. Logo o compartimento de carga havia sido pressurizado e uma dezena de bots, fortemente armados, esperavam pela saída de Blacky de dentro de sua nave. Blacky, por sua vez, muito contrariado, desceu da nave e foi guiado pelos bots até a ponte de comando da nave, onde o Pirata o esperava com um sorriso um tanto misterioso no rosto.
- Você me parece um pouco tenso, zioniano, nunca foi roubado antes? – perguntou o pirata tragando calmamente seu charuto – Mas eu tenho boas notícias para você, eu posso te dar emprego em minha nave, ou você pode descer aqui mesmo, no meio do espaço, o que prefere?
- Bem, levando por este ponto – disse Blacky coçando sua barba que teimava em crescer mais de um lado do que do outro de seu rosto – eu acho que preciso pensar um pouco...
Terminado de dizer isto, um novo estrondo foi ouvido e um forte tremor foi sentido por todos na ponte de comando.
- Fomos atingidos por alguma coisa que não sei lhe informar o que, senhor! – exclamou um dos tripulantes.
- Então trate de revidar logo, seu imbecil! – gritou o pirata muito bravo.
- Eu não faria isto! – disse uma terceira voz que vinha do painel da nave pirata – O próximo disparo será fatal!
- E quem você pensa que é para dar ordens ao grande Pirata? – disse o pirata muito bravo – Ninguém me dá ordens!
- Sou o sargento Drake, do terceiro batalhão de patrulha de Alderaan, e gostaria de te informar que estou levando você e todos seus tripulantes sob custódia para julgamento da acusação de pirataria espacial!
- Então primeiro você precisa me capturar! – disse o Pirata sentando em sua poltrona e assumindo os controles da nave.
Blacky, muito confuso, apenas correu para um canto e se segurou firmemente em um trecho do painel de comando. A grande nave, que viajava parelha da nave Alderaani, em um giro de 90º acionou seus propulsores de forma que o campo de mira da nave Alderaani não pudesse lhe atingir diretamente. Sem perder tempo, a nave de Drake fez o mesmo movimento e começou a manobrar para travar a mira na nave pirata, a qual, percebendo que estava sendo perseguida de perto, começou algumas manobras evasivas, as quais não surtiram o efeito esperado, pois uma série de disparos atingiram em cheio a nave fazendo o cérebro de todos sacudir tão violentamente que seus rins já estavam prestes a dançar tango sob ordens cerebrais.
- Sintam o poder bélico Alderaani, seus ratos! – disse Drake muito feliz por ter acertado a nave inimiga tão efetivamente.
Para a surpresa do sargento, a nave, em um outro giro, acionou novamente seus propulsores e aumentou consideravelmente sua velocidade. A nave Alderaani começou a segui-la, atingindo-a constantemente com disparos quase aleatórios. Em pouco tempo as duas naves dividiam espaço no hiperespaço, seguindo tão juntas que uma simples redução de velocidade da nave pirata faria com que ambas as naves se transformassem em um grande e nada delicioso pastel de ferraria espacial.
- Para onde estamos indo? – exclamou Blacky dentro da ponte de comando da nave pirata.
- Não tenho ideia, cara! – disse o Pirata – Mas sei que aquele rato não vai me pegar assim tão facilmente!
Naquele instante os comandos da nave pirata começaram a pifar sistematicamente, fazendo com que a nave, lentamente começasse a sair do hiperespaço. Devido aos escudos defletores da nave pirata, a nave alderaani havia sofrido uma série de avarias, das quais três ou quatro pareciam bastante preocupantes. Em poucos instantes as naves estava paradas, frente a frente, ameaçadoramente sob a mira uma da outra.
- Você não vai me levar a lugar algum! – exclamou o pirata para o comunicador.
- Você tem razão, pirata! – disse o sargento – No estado que nossas naves se encontram, o melhor que tenho a fazer é destruir sua nave e usar o entulho para consertar a minha!
- Então vamos ver qual escudo aguenta por mais tempo! – exclamou o Pirata.
Sob os constantes protestos de Blacky, o pirata acionou os canhões de fótons de sua nave que começaram a tentar furar o bloqueio adversário. Sem ficar para trás, a nave alderaani disparou uma rajada de qualquer coisa vermelha e muito ameaçadora na direção da nave pirata, que resistia bravamente às investidas do sargento.
Em alguns instantes ambas naves estava sob bombardeio direto da nave inimiga, e ambas estavam a ponto de explodir.
- Precisamos dar o fora daqui! – exclamou Blacky – Se esta droga explodir nós vamos morrer!
- Então vamos pegar sua nave e dar o fora! – disse o Pirata – Você sabe pilotar aquela coisa melhor que eu, então vai me dar uma carona!
Os dois correram até o setor de carga onde a pequena nave eagle repousava calmamente. Ambos entraram na nave que, logo começava a manobrar para fora da grande e destroçada nave pirata.
- Vamos para onde, zioniano? – perguntou o pirata – Tens ideia de onde estamos?
- Aqui parece ser o setor quase deserto conhecido como via-lactea, mas não tenho muita certeza disto! – respondeu Blacky – Vou até este planeta habitado, que parece ser o único desta região, para ver se conseguimos uma nave para você!
Neste momento o sensor de proximidade acusa outra pequena nave se aproximando e atirando incessantemente na direção da pequena nave eagle. Blacky, por sua vez, desviava facilmente por entre as rajadas de tiros.
- Entreguem-se, piratas! – disse o sargento pelo comunicador.
As duas pequenas naves rumavam para o pequeno planeta azulado que, segundo indicações cartográficas, parecia ser habitado. Blacky desviava das investidas do sargento com uma habilidade notória, revidando alguns tiros de vez em quando. Logo as duas naves estavam próximas o bastante da órbita do planeta para ligar os motores atmosféricos. É quando em uma manobra mal sucedida da pequena nave Alderaani, Blacky acerta uma rajada de fótons bem no centro dos propulsores primários. A pequena nave, devido o disparo, rumou em disparada em direção à atmosfera do planeta, seguida de perto pela pequena nave de Blacky. A nave descia em parafuso e, ao que tudo indicava, faria um belo e grandioso buraco ao atingir o solo.
- O que você pensa que está fazendo? – disse o pirata vendo que Blacky tentava alinhar sua nave no trajeto da nave adversária.
- Estou impedindo que este sargento vire geleia enlatada! – respondeu ele.
Logo um poderoso raio trator fez com que ambas as naves colassem uma na outra, e, com grande esforço dos motores atmosféricos da pequena nave zioniana, iniciassem um pouso um pouco mais tranquilo do que o esperado, porém muito mais conturbado do que o desejado.


Episodio 3

Era uma tarde bastante comum para o cargueiro Voxis-4, de Sirius-3, onde seu capitão, como de costume assistia a mais um capítulo de sua novela favorita.
- É hoje que Juan Gabriel vai pedir Rosamaria em casamento! – Exclamou o capitão acariciando suas longas barbas grisalhas – Só espero que aquele maldito do Valdez Sanches não chegue a tempo para atrapalhar tudo!
- Agora que ele fugiu da cadeia precisa fazer jus de sua alcunha de El Bandidon! – disse um funcionário que passava por ali
- Não diga bobagens, criado! Ele já enfiou o sarrafo na pobre da Conchita semana passada! – disse o capitão um tanto irritado – Não vejo o que mais de ruim ele tem por fazer!
Naquele momento uma grande nave negra aparece nos visores da ponte de comando, se aproximando rapidamente com todo o tipo de protuberâncias e outras excentricidades típicas dos piratas espaciais. O alarme começa a soar no cargueiro Voxis-4, alarmando todos para o perigo iminente.
- Justo na hora que o Don Juan chegou à casa da Rosamaria! – exclamou o capitão quando a tela da Tri-D se desligou em virtude do alarme.
O capitão se levantou e foi até a ponte de comando rapidamente, tempo suficiente para conseguir enxergar no painel principal a imagem de um sujeito vestindo roupas pretas e uma barba bastante mal cuidada aparecer na tela.
- Saudações, tripulantes da Voxis-4! – disse ele com um sorriso no rosto – Eu sou O Pirata, um cara bastante malvado, e sei que vocês estão transportando um carregamento bastante generoso e valioso de materiais tecnológicos de Sirius!
- Liguem os motores para darmos o fora daqui! – exclamou o capitão para sua tripulação.
- Vocês podem até tentar sair, mas o raio trator já está segurando sua nave junto à minha, o que apenas faria com que começássemos uma ação conflitante e violenta a qual não estou com vontade que aconteça! – disse o Pirata no telão – Agora sejam bonzinhos e empilhem tudo na baia de descarga número 6 para que meus companheiros possam coletar tudo rapidinho e sem muito esforço.
- E se não quisermos nos render tão facilmente? – indagou o capitão.
- Legal! – exclamou o Pirata – El Bandidon enfiou uma faca na barriga do panaca do Juan Gabriel! – e voltando os olhos para o comunicador – O que você dizia mesmo?
- Você não pode estar falando sério! – disse o capitão muito irritado – Juan Gabriel passou por poucas e boas para pedir a Rosamaria em casamento e o Valdez Sanches não têm o direito de fazer isto com ele!
- El Bandidon é o personagem mais legal desta novela, ele deveria acabar com a vida do Juan Gabriel e dar um trato na Rosamaria, assim como ele fez com a Conchita!
- El Bandidon é um imbecil e merece a morte! – exclamou o capitão
O capitão e o Pirata se encaravam diretamente e a raiva entre eles era visível para todos que os assistiam. Em poucos segundos a Voxis-4 havia se transformado em nada muito maior que pequenos destroços vagando no espaço, e o Pirata, com um sorriso de satisfação no rosto, abria mais uma cerveja para terminar de assistir sua novela.
- Porque você fez isto, capitão? – perguntou um tripulante – Agora vamos ter que viajar por 14 crivos para alcançar o próximo cargueiro!
- Ninguém tem o direito de olhar na minha cara e dizer que El Bandidon é um imbecil! – disse o Pirata acendendo um charuto e se encostando confortavelmente em sua poltrona – Ninguém.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Episodio 2

Era um entardecer úmido e bastante frio naquele planetoide perdido em meio a um setor quase esquecido em um canto obscuro da galáxia. Em meio a multidão que ocupa as ruas naquela pequena capital do estado mais ao sul do Brasil, uma sombra praticamente imperceptível parece se esgueirar por entre o povo, procurando algo que pudesse lhe servir de alguma forma.
- “Relógio digital, celular, carteira com papel colorido dentro...” – pensava ele – Qual a dificuldade deste povo em carregar algum transportador extraorbital em seus bolsos?
E mais um dia parecia estar acabando naquela pequena cidade daquele distante e tão insignificante planeta perdido no meio de lugar nenhum. Aquele estranho visitante que antes desaparecia no meio da multidão, agora apenas descansava seu corpo em um galpão abandonado não muito longe.
- Então, Mussum, hoje temos este negócio estranho e amarelo que chamam de macarrão para o jantar! – disse ele para um pequeno cachorro preto e muito mal cuidado que estava deitado próximo à pequena fogueira no meio do galpão – Prometo que amanhã eu trago algum pedaço de animal morto para comermos, não aguento mais comer este negócio!
Dizendo isto ele atira o macarrão dentro de uma panela com água pendurada logo acima da fogueira.
Era um dia bastante frio naquele lugar, e mesmo um viajante interplanetário precisava de um pouco de fogo para se aquecer. Logo o macarrão estava totalmente consumido pelo sujeito e seu cachorro, que agora dormia enrolado encima da barriga de seu dono. Logo mais um dia começaria para sua missão de dar o fora daquele lugar.
O que ele não sabia, é que o planeta em que estava, conhecido por seus habitantes apenas como “Terra”, ficava perdido no meio de centenas de outras estrelas que, por uma incrível peça do destino, nunca desenvolveram qualquer forma de vida. Esporadicamente algum aventureiro, normalmente movido pelo grande consumo de álcool, aparece para algum habitante da terra, faz alguns barulhos estranhos, pisca algumas luzes, ou mesmo coloca fogo em algum arbusto e se passa por algum ser extraordinário. E com nosso sujeito perdido não foi diferente.
- Pois é, Mussum, e pensar que tudo isto é culpa daquela cerveja maravilhosa... – disse ele tomando um gole de uma cachaça qualquer – E não adianta ficar resmungando que eu não vou mudar de ideia! Aquele garoto disse que o planeta dele era produtor de Fireburns e que o estoque de seu pai nunca terminava. Ele só esqueceu-se de dizer que iria me deixar neste planeta onde paramos para assustar alguns nativos...

O cachorro parecia entender tudo que o rapaz dizia, inclusive emitindo alguns ruídos de tempos em tempos, que por qualquer um que pudesse estar presenciando a cena, poderia jurar que eram respostas para o que lhe era dito. Logo o cachorro e seu dono adormeceram ao lado da fogueira como de costume.

Episodio 1

Esta história começa de uma forma bastante peculiar, mas um tanto comum em se tratando do que irá decorrer no resto da história. Diferentemente do que se espera esta história não terá um “Era uma vez” ou algo do tipo.

Esta história começa em um bar.

Mais especificamente em um bar situado à área 51 do quarto planeta do sistema Zion, sito à quatro crivos da principal rota comercial desta galáxia.
Era um bar um tanto diferente do comum. E não era pelo fato de terem muitas mesas de bilhar cósmico espalhadas pelo bar, ou de suas mesas serem redondas, normalmente com quatro cadeiras ao seu redor. Isto é muito comum em bares por toda a galáxia. O que diferencia este bar de tantos outros é o simples fato de seu dono ser o ex-imperador zioniano, Grey Awe.
Em um canto nada obscuro um jovem de longos cabelos negros parecia perdido em meio a dúzias de garrafas de Fireburn vazias, enquanto em uma manobra mal sucedida de seu braço esquerdo, o qual visava levar sua mão até o copo que estava encima da mesa, caia e se enterrava mais ainda no meio das garrafas.
- Blacky, meu filho! – exclamou o sr. Grey – Você precisa ao menos deixar que os bots levem as garrafas vazias!
- Eu gosto de todas elas, pai! – disse o bebum – E elas parecem gostar bastante de mim, também.
Após algum tempo de tentativas fracassadas do braço esquerdo, a mão direita, já irritada com tamanha demora, tomou a linha de frente e agarrou o copo cheio de cerveja e o levou em zigue-zague até a boca para um generoso gole ser absorvido de dentro do copo. O líquido desceu pela garganta e, ao chegar no final de sua não tão longa jornada ao estômago, pôde ver claramente aquilo que parecia ser um exército de amendoins marchando em direção contrária a seu fluxo comum. Naquele dia os bots não tiveram muita folga ao limpa o chão.

Um fato interessante sobre as cervejas Fireburn é que são as primeiras e únicas cervejas do tipo “Burn” de toda a galáxia, que em contraste com seu nome, possuem a incrível característica de se manterem geladas por dias sem o uso de refrigeradores.

Esta impactante cerveja está registrada no Centro Galáctico de Marcas e Patentes em nome de Grey Awe, ex-imperador de Zion, o qual renunciou ao cargo para dedicar-se ao seu famoso bar “Boteco’s Bar” e a seu filho Blacky Awe, o jovem beberrão que à tempos largou sua carreira para dedicar-se à incrível missão de transportar o maior volume de cerveja devidamente processada do copo até o mictório.